Tratamento cirúrgico para câncer no fígado
Dr. Marcel Autran Machado Especialista em cirurgia do aparelho digestivo e cirurgia minimamente invasivaPostado em: 21/12/2020
O fígado é um órgão de grande importância, responsável pela degradação e metabolização de substâncias nocivas ao organismo, transformação de substâncias em nutrientes, produção de bile para a digestão, produção de proteínas essenciais para a coagulação e a manutenção do equilíbrio de fluídos do corpo humano.
Este órgão fica localizado na parte superior direita do abdômen, protegido pelas costelas inferiores.
A capacidade de regeneração do fígado é impressionante. Após retirada de grande parte do órgão, ocorre uma disfunção temporária do fígado mas que normaliza após alguns dias quando o processo de regeneração se inicia.
O câncer do fígado (tumor primário, carcinoma hepatocelular) inicia-se geralmente como um nódulo isolado ou nódulos múltiplos. Na fase inicial, o seu crescimento costuma ser devagar e assintomático.
O câncer de fígado possui quatro estádios, sendo eles:
- Estádio I: tumor único que não invade os vasos sanguíneos ao redor;
- Estádio II: tumor único com invasão dos vasos sanguíneos ao redor ou múltiplos tumores ≤ 5 cm;
- Estádio III: tumor único > 5 cm ou com invasão as veias maiores do fígado ou invadindo órgãos vizinhos ou os linfonodos regionais;
- Estádio IV: metástases em órgãos distantes, como pulmões e ossos.
Tratamento para câncer do fígado
O câncer do fígado (carcinoma hepatocelular) pode vir acompanhado de alterações na função do fígado. Portanto, independente do estádio em que a doença se encontra, é essencial avaliar a função hepática antes de definir o melhor tratamento.
Existem várias categorias para definir o grau de comprometimento funcional do órgão, tendo base em exames laboratoriais, clínicos, como a presença de ascite, icterícia e distúrbios neurológicos. O tipo de tratamento vai depender do estádio em que a doença se encontra, como:
Estádios I e II
Hepatectomia
A hepatectomia é caracterizada pela retirada de parte do fígado resultando em melhores resultados em tumores únicos e pequenos. Em alguns casos é possível realizar a hepatectomia por via minimamente invasiva, técnica que possibilita um pós-operatório com menor risco de complicações.
Suas complicações mais comuns são:
- Sangramento;
- Infecção;
- Fístulas biliares;
- Formação de ascite;
- Insuficiência hepática;
Transplante de fígado
O transplante de fígado é um forma de tratamento no caso de tumores confinados ao fígado quando o mesmo está com sua função comprometida pela cirrose.
É um procedimento extremamente complexo e depende da disponibilidade de doador com sangue compatível pelo sistema ABO.
Existem dois segmentos de transplantes hepáticos:
- Quando o fígado é retirado de doador vivo (de um familiar de tipo sanguíneo compatível);
- Ou de um doador morto. Neste caso, as filas de espera são controladas pela Central de Transplantes dos Estados.
Ablação por radiofrequência
Há possibilidade de tratamentos menos agressivos para tratamento do câncer do fígado, como a ablação por radiofrequência. Este procedimento é realizado por meio de uma agulha introduzida no tumor através da parede abdominal, guiado por ultrassonografia ou tomografia.
Na ablação por radiofrequência, o tumor recebe ondas que provocam o aumento da temperatura em seu interior, causando necrose tumoral..
Quimioembolização
A quimioembolização consiste na injeção de agentes quimioterápicos dissolvidos em preparações contendo microesferas, diretamente no interior da artéria que nutre a região em que o tumor se encontra.
O restante do fígado não é comprometido, uma vez que a nutrição é feita através da artéria hepática. As células malignas do tumor são atacadas diretamente pela alta concentração do quimioterápico que chega a elas e pela falta de suprimento sanguíneo ocasionada pela obstrução que as microesferas provocam na artéria que as nutre.
Estádios III e IV
Terapêutica antiangiogênica
A terapêutica antiangiogênica consiste na utilização de agentes que bloqueiam a formação de novos vasos sanguíneos, impedindo que as células tumorais recebam nutrientes e oxigênio através da circulação.
O medicamento mais utilizado para isso é o sorafenibe, via oral, com efeitos colaterais como cansaço, lesões na mucosa da boca, inflamação da palma da mão e planta dos pés e efeitos tóxicos para o fígado.
Quimioterapia
A quimioterapia pode ser um tratamento benéfico mesmo quando os tumores malignos do fígado são relativamente resistentes ao tratamento.
Sintomas do câncer do fígado
Os pacientes podem não apresentar sintomas até que o câncer do fígado esteja em seu estádio avançado, por isso nem sempre é encontrado em estádios iniciais.
Já com o crescimento do tumor, alguns pacientes podem sofrer sintomas como:
- Dor abaixo das costelas à direita;
- Pele e olhos amarelados;
- Distensão abdominal;
- Massa e rede de varizes na pele do abdômen;
- Perda de apetite;
- Fadiga;
- Náuseas
- Infecções repetidas;
- Urina escurecida
- Fezes claras.
Em outros pacientes poderão até mesmo evoluir para ruptura espontânea do tumor, com uma dor de intensidade forte e súbita no hipocôndrio direito, e logo após um choque hipovolêmico por sangramento intra-abdominal.
Causas do câncer do fígado
O principal fator de risco do câncer do fígado para o desenvolvimento do carcinoma hepatocelular é a cirrose hepática que conta com diversas causas, sendo as suas principais, o alcoolismo e a infecção pelo vírus da hepatite B e C.
A exposição à aflatoxina, toxina de fungos encontrados em amendoim, milho e mandioca mal conservados também é causa conhecida, além de doenças raras como a hemocromatose e a deficiência de α-1 antitripsina e tirosinemia. O uso de esteróides anabolizantes também aumenta o risco do câncer hepático.
Prevenção do câncer do fígado
Para a retardar e prevenir o aparecimento do câncer do fígado deve-se evitar:
- Infecção por hepatites: utilizando vacinação, controle transfusional, transmissão vertical e preservativos
- Diminuir o consumo de bebidas alcoólicas e aflatoxinas: nome dado a um grupo de substâncias tóxicas produzidas por fungos;
- Controle das hepatites pode retardar o surgimento das lesões;
- Rastreamento: dosagem periódica da AFP no sangue e a realização de exames como ultrassonografia, tomografia ou ressonância, que permitem a detecção e início do tratamento precoce.
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Artigo escrito pelo Dr. Marcel Autran
Especialista em Cirurgia do Aparelho Digestivo com área de atuação em Cirurgia Videolaparoscópica